quinta-feira, 10 de maio de 2012

Porque o verdadeiro reality show é a vida

Quando soube que estava grávida, com míseras 5 semanas de gestação, algumas pessoas me falaram para não falar, não contar. Dei de ombros e nem me esforcei para esconder o fato, mesmo porque não dá pra colocar um elefante debaixo do tapete! E a notícia era sim pra mim um elefante, pois, embora fisicamente eu estivesse totalmente à paisana, emocionalmente a situação era de uma euforia que eu não podia e nem queria ignorar na minha comunicação com os amigos.

E assim foi, contei pra todo mundo! Coloquei no blog, fiz o maior estardalhaço. Nas poucas vezes em que sonhei em ser mãe a parte que mais me empolgava eram as cenas imaginárias de eu contando pras pessoas que estava grávida! A partir daí fantasiei muito pouco, rs...

Embora desde sempre eu soubesse que as taxas de aborto no primeiro trimestre de gravidez são muito altas, eu não queria assumir uma postura de "peraí, vamos ver se vai vingar". Acho que isso até atrapalha a formação do vínculo mãe-filho, tão importante justamente no comecinho da gestação...

Eis que então eu caio no grupo dos 20%. Pra quem entende minimamente de números, essa taxa de 20% é alta... 20% das gestações são interrompidas naturalmente, segundo meu médico. Atenção: 20% das gestações, não das gestantes (estatisticamente falando - e isso não serve pra muita coisa - a cada cinco filhos, um não nasce). É realmente um número alto e não escapei dele.

Aí vem a parte chata, muito chata, que é contar pras pessoas. A primeira sensação é de um fracasso público, de expor uma impotência. E o pior é ouvir novamente que eu deveria ter esperado completar três meses pra contar que estava grávida... olha, desculpem se lhes apurrinhei, fazendo-os expressarem congratulações e pêsames e um espaço tão curto de tempo, mas essa é a vida, a vida real.

E no meio das mensagens de apoio (que foram mais numerosas e tiveram mais caracteres que as de congratulações - obrigada amigos!), começaram a pipocar notícias de amigas e amigas de amigas que já passaram por isso e que tiveram "dezenas" de filhos depois, dizendo pra eu não me preocupar, pra eu não desistir, enfim, mostrando como a situação é, infelizmente, comum. E se ninguém contar, como fica? Cada uma vai ficando apavorada, se achando a última das mortais.

Bem, em nenhum momento eu pensei que deveria ter escondido o fato de estar grávida, ao contrário: nos dias que sucederam o aborto, conforme eu ia lendo as mensagens, aquilo ia me confortando tanto que eu só conseguia me perguntar o que seria de mim (e do Paulo Cesar) se estivéssemos sofrendo no anonimato. Olha, se você me tem como amiga, não me esconda nenhuma dor, pois isso sim é traição! Se você tem amigos, você não tem o direito de sofrer sozinho!

Ok, concordo que colocar tudo no Facebook é um pouco demais, mas com os amigos cada vez mais longe as ferramentas internéticas ajudam nessa hora. É difícil estabelecer medidas e limites... no meu caso, a escrita é minha terapia, minha arte e minha voz. E quem faz arte quer platéia! Bom, tudo isso pra justificar um pouco a minha "superexposição", que pra mim nem é super, me dou muito bem com ela e até agora nunca me causou nenhum transtorno - que eu tenha detectado, já que existem também as teorias da inveja e do mau olhado, mas não tenho tempo pra elas. Eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam e nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal... e por aí vai!