sexta-feira, 30 de setembro de 2016

História de dois irmãos

A entrada de um novo integrante na família dá pano pra manga. Jorge ainda está na barriga e já tenho milhões de encanações, dúvidas, inseguranças, tanto em relação a mim mesma e minha relação com ele, quanto na minha relação com o Joaquim, que está com 3 anos e meio, na relação do Joaquim com o irmão, do pai com o novo filho, do pai com o filho mais velho, do pai comigo, enfim, tudo o que diz respeito a todas as linhas que podem unir esses 4 pontos.

E nesse emaranhado todo tem uma história que já me ajudou muito com o Joaquim, que é a história antroposófica do nascimento, que é contada pra criança nos seus aniversários. Lá no final tem a história completa, mas a ideia é que as crianças, antes de nascerem, moravam no Castelo das Nuvens e eram cuidadas pelos anjos. De lá do Castelo as crianças observam a Terra e escolhem suas famílias.

Antes de ficar grávida já falávamos com o Joaquim sobre um irmão e ele às vezes perguntava "cadê meu irmão", então eu respondia que ele estava no Castelo das Nuvens. Outro dia, já com o Jorge na barriga, não lembro exatamente o contexto, mas eu contei pro Joaquim que ele e o Jorge moravam juntos no Castelo das Nuvens, que eles eram muito amigos e que eles escolheram juntos a nossa família. E que eles decidiram juntos que o Joaquim viria primeiro e o Jorge depois. Eu disse que o Joaquim foi muito corajoso escolhendo vir primeiro - "por quê?!" - porque ele foi um desbravador, ele veio ensinar à mamãe e ao papai o que é ser mãe e o que é ser pai; logo em seguida eu disse que o Jorge também foi muito corajoso por esperar pra vir depois  - "por quê?!" - porque ele topou entrar numa família que já tinha um filho, onde ele não seria o centro de todos os cuidados. Eu disse ainda que o Joaquim confiou no Jorge, que ele viria depois pra lhe fazer companhia, e que o Jorge confiou no Joaquim, que ele se lembraria dele e que continuariam sendo grandes amigos.

Conforme eu ia contando os olhos do Joaquim ficavam grandes e interessados. A boca só abria pra perguntar os onipresentes porquês e no final das frases falava "É?". Senti que a história foi muito importante pra ele, fez muito sentido. E foi fazendo, assim de improviso, muito sentido pra mim também, claro, pois acredito na ancestralidade das irmandades, nos encontros de almas e na eternidade das histórias.

Senti que depois de contar essa história o emaranhado de linhas foi virando um lindo desenho estrelado, que me inspirou a buscar um pouco mais sobre a chegada de um irmão, e aí lembrei da Laura Gutman. Algumas frases muito simples ajudaram a sossegar meu coração e a enxergar com mais graça e leveza a dádiva que é ter o segundo filho:

"Acreditar que a chegada de um irmão vai despertar, obrigatoriamente, uma cascata de ciúmes nos filhos mais velhos é fruto de um preconceito inventado e mantido pelos adultos"

"A verdade é que não há nada mais maravilhoso que o nascimento de um irmão, o ser mais parecido, mas próximo, mas 'irmanado' que teremos ao longo da vida"

Conversar com a minha médica também ajudou muito a dissolver essa crença de que "a chegada do irmão desencadeia ciúme e competição"  - e como é bom ter uma médica com quem conversar sobre esse tipo de coisa!

Conversar com a minha doula também tem ajudado a situar minhas inseguranças e ansiedades - e como é bom poder contar com uma doula!

E ninguém vai me fazer (voltar a) acreditar que a chegada do irmão vai ser um tsunami na vida do Joaquim. Se você passou por isso, enquanto mãe ou pai, só peço um favor: não me diga "ah, agora tudo lindo, mas você vai ver só quando nascer". Simplesmente não diga.


Segue a história do nascimento, que me foi passada pela minha cunhada e comadre, super mãe Waldorf!

Lá no céu tem um Castelo, um castelo muito belo.

Nesse Castelo haviam 7 Crianças Estrela, e uma dessas crianças já estava com o pezinho para fora da porta do Castelo, quando o Anjo Maior perguntou:
- Aonde você vai Criança Estrela?
- Quero ir à Terra, Anjo Maior.
- Ah, muito bem. Mas você já sabe onde ir? É preciso escolher um lugar.

E a Criança Estrela abriu uma janela do Castelo, olhou lá para baixo e avistou um lugar todo branquinho, gelado, igual sorvete. Era o Alaska.

Rapidamente fechou a janela e disse:
- Não, não, não, nesse lugar eu não quero ir. Faz muito frio! Vou escolher outro lugar.

Abriu outra janela, olhou lá para baixo e avistou um lugar todo amarelinho, onde fazia muito calor. Avistou também bichos engraçados de pescoços compridos... Era a África. Fechou a janela rapidamente e disse:
-  Alí eu também não quero descer não. É muito quente!

Abriu a terceira janela e avistou um lugar todo verdinho, com muitos pássaros coloridos e frutas saborosas. Era o Brasil! O clima era fresquinho. A Criança Estrela se alegrou e disse ao Anjo Maior:
- É alí que eu quero descer!

O Anjo Maior então recomendou:
- Agora você precisa escolher um Papai e uma Mamãe pra você!

A Criança Estrela então olhou novamente para baixo, lá no lugar onde tinha escolhido e foi vendo muitas casinhas com pessoas dentro... E numa dessas casinhas, avistou um belo moço que se chamava Paulo Cesar que vivia muito feliz com uma linda moça chamada Carolina.

Eles se amavam muito e todas as noites rezavam olhando para as estrelas do céu pedindo que um dia pudessem ganhar uma linda criança de presente.

A criança estrela se alegrou e disse ao Anjo Maior:
- Já escolhi minha Mamãe e meu Papai!

O Anjo Maior satisfeito chegou bem perto da criança e disse assim:
- Agora, você já pode ir Criança Estrela. Vou retirar sua asas e guarda-las aqui comigo para quando você voltar. Desça pelo arco-íris e boa viagem!

Então a Criança Estrela desceu do céu pelo arco-iris e fez uma linda viagem chegando aqui na Terra nos braços da Mamãe e do Papai.

Os pais olharam muito felizes para a criança e disseram:
- Vai se chamar Joaquim! E de tanta alegria e emoção cantaram para ela:

"Neste dia você nasceu
E a nossa vida alegrou
Trazendo luz

Hoje vamos comemorar
Tudo o que a vida nos dá
Com muito amor"