sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

vai passar...

Vai passar. Esse tem sido meu mantra desde as primeiras semanas de gravidez, quando comecei a passar mal. Vai passar.

E lá se foram 6 meses de enjoos mais 4 meses de azia! Sim, porque a gravidez durou 10 meses! E no final, aquele desconforto pra dormir, aquele peso, aquele cansaço e eu no meu mantra: vai passar.

E lá se foram 42 semanas de gestação!

Até que finalmente, quando eu já estava lançando mão de métodos caseiros de indução e considerando seriamente algo mais invasivo, começam as contrações. E logo ficam fortes. E dolorosas. E eu no meu mantra: vai passar.

E lá se foram 36 horas (!!!) de trabalho de parto. Com MUITA dor. Até que foi constatada uma DCP e partimos pra cesariana. Continuei no meu mantra: vai passar.

E lá se foi uma cirurgia demorada e complicada. E com isso precisei ficar um dia a mais no hospital, a médica queria que eu ficasse ainda outro, mas escolhi voltar pra casa e assim fui. Fraca, com anemia, com sonda, tomando injeção de antibiótico duas vezes por dia e continuando com o mantra: vai passar.

E de fato passou. No dia que tirei a sonda e os pontos - uma semana após a cirurgia - senti que renasci. Ainda fraca pela anemia, mas renascida.

Pois logo em seguida, TRÊS DIAS pra ser exata, fizemos nossa mudança. Pra casa nova, uma alegria, mas uma baita de uma mudança! Eu, claro, não carreguei um copo. Fisicamente a mudança não me exigiu em nada, mas tem todo um abalo né, as coisas ainda meio sem lugar... a personificação exata do meu estado emocional: tentando juntar os caquinhos e avaliando se vale a pena colar - como se tivesse escolha. Dessa vez com menos otimismo, mas ainda insistindo no mantra: vai passar. (menos otimismo porque a impressão é que as coisas NUNCA iriam se ajeitar, ao contrário das situações anteriores, onde dava pra vislumbrar algum prazo, por maior que fosse, por maiores que tenham sido).

E o nenê?! Claro, o nenê! Nasceu ótimo, passou as primeiras semanas sossegado como um anjinho, dormindo longas horas. Certamente ele sabia exatamente onde estava se metendo... mas assim que a poeira ameaçou baixar, Jorge ficou inquieto. Devem ser as tais das cólicas, que não tivemos com o Joaquim.

Então me vi com um nenê chorão, que não sossegava mamando, e tremi. Num ato reflexo, automático, ameacei pensar "vai passar". Mas trago comigo uma centelha de lucidez que gritou "OPA! Peraí! Vai passar O QUÊ?! Vai passar a sua vida. Vai passar a vida do seu filho!".

E aí me dei conta da grande armadilha desse mantra... porque o que passa é a vida, quer passemos por ela ou não.



PS - ainda não consegui escrever sobre o Jorge. Ele é tão lindo! Mas tenho que digerir algumas coisas sobre mim antes de chegar nele...