Joaquim, foi logo no começo da
sua vida dentro do útero que seu pai apareceu em casa com um besouro. Um
besouro diferente, grande, bonitão - esse aí da foto. Ele falou que ia guardar
pra você e assim começou uma coleção, pois os bichinhos foram aparecendo e
estão todos numa caixinha que um dia você vai ganhar (e que até lá pode se
transformar numa caixona, pois a coleção não para de crescer!).
Eu também me animei com a coleção
e estou sempre de olho, porque aqui em casa tem muito bichinho. Só que uma
regra é que só entra o bichinho que a gente encontrar morto, pois é claro que
não vamos sair por aí matando besouros por capricho. Uma vida é sempre uma
vida, não importa o tamanho.
E começando a prestar mais atenção
nos besouros, acabava encontrando muitos virados de barriguinha pra cima, sem
conseguir se virar de volta. Aquela situação me dava a maior pena e eu virava
ele, mas sem me conformar com essa "falha de projeto" da natureza!
Como pode um bicho ficar numa posição da qual ele não consegue sair!? Se não
aparecer ninguém pra ajudar, ele morre. E tanto morre que estamos fazendo uma
coleção!
E foi essa coleção, filho, que me
ajudou a entender o nosso nascimento. Nós somos dois besourinhos :)
No dia que você escolheu pra
nascer nós ficamos um bom tempo que nem os besouros, virados de barriguinha pra
cima e sem conseguir sair do lugar. Mas felizmente alguém passou por ali, viu
nossa aflição e nos deu um peteleco!
Levar um peteleco não é lá a coisa mais legal do mundo, mas depois que passa o susto e a gente vê que pode andar de novo, que acabou aquela agonia, aí é um grande alívio e uma grande felicidade. E a felicidade de olhar pro lado e ver que você está andando junto comigo, ah, essa realmente não tem tamanho!
Hoje eu entendo que essa "incapacidade" dos besouros não é uma
falha de projeto, mas uma evidência de que estamos todos interligados; um
lembrete de que não podemos fazer tudo sozinhos; um aviso de que é preciso
saber pedir - e aceitar - ajuda; e aprender essa lição pode significar a diferença
entre a vida e a morte.
Então, Joaquim, o que eu desejo é
que sempre que você estiver numa situação difícil, aparentemente sem solução,
sem conseguir enxergar o horizonte, que nesse momento uma alma solidária
apareça e mude sua posição. Assim, sem perguntas, sem “mas” nem “por que”. E
você, filho, saia então seguindo seu caminho, também sem perguntas, sem “mas”
nem “por que”, simplesmente porque essa é a teia da vida.
Escrever sobre uma cesariana não
é tarefa fácil quando se quer contar uma história bonita. Não há romantismo, o
cenário é frio e não tem muito o que “inventar” pra fugir disso. Mas nos
primeiros instantes em que fiquei a sós com o Joaquim, enquanto me recuperava
da anestesia, eu prometi pra ele que iria escrever uma história bonita pra
contar seu nascimento. Porque ele merece ter uma história bonita!