domingo, 10 de março de 2013

A mãe recém-nascida

A mãe recém-nascida é tão frágil, indefesa, inexperiente e necessitada de cuidados quanto o bebê que a fez nascer. Só que infelizmente poucos se dão conta disso... e, mais infelizmente ainda, entre esses poucos nem sempre está a própria mãe, pois é comum que ela não tenha consciência desse seu estado.

E isso não tem a ver com o fato de ser uma mãe "totalmente nova" ou já com certa experiência. A mãe que nasce é a mãe daquele bebê e, por mais que ela tenha outros filhos, será sempre uma nova mãe. Como diz a Vilma, "de dentro pra fora é sempre a primeira vez". Pode ser, é claro, que a mãe recém-nascida tenha ajuda da mãe um pouco mais vivida que a habita, mas isso geralmente vai se restringir a uma maior desenvoltura com fraldas, roupinhas e malas... desafios novos sempre haverão e nos âmbitos mais sutis.

Vejamos então como é essa dupla - mãe e bebê recém-nascidos. Frágil, indefesa, inexperiente, mas não 100%, afinal, a natureza cuida de nós e quer que sobrevivamos. Um bebê é frágil, mas ao mesmo tempo pode ser extremamente forte em seu instinto de sobrevivência, por mais que isso lhe custe sequelas... enfim, sabemos de bebês que sobrevivem às condições mais adversas e, segundo a Laura Gutman, todos nós somos, em última análise, sobreviventes. Assim são também as mães recém-nascidas. Elas podem ser muito frágeis, mas também são dotadas de uma força que as impulsiona.

Seguindo esse raciocínio eu diria que um bebê é semi-indefeso, porque por mais que ele não possa sequer virar de lado, quanto mais "sair correndo", ele tem seu choro, que é seu grande trunfo, sua única defesa, seu único modo de expressar incômodo, insatisfação, medo, fome, dor, tristeza, angústia. Fica ao observador o desafio de decodificar esse choro para poder tomar a medida necessária ao seu alento. E a mãe recém-nascida, qual é seu grande trunfo? O que a torna "semi-indefesa"? Seu instinto. Igualmente misterioso e de difícil tradução, mas igualmente vital. E, da mesma forma que o choro, igualmente trágico quando ignorado.

A inexperiência é a questão mais fácil de resolver, desde que se tenha paciência e consciência de que os grandes monstros do começo viram carneirinhos depois de um tempo. Não pelo tempo, mas pela persistência, pela observação, pela repetição, pela vontade de melhorar e tornas as coisas mais fáceis.


E os cuidados? Se as características anteriores tinham cada uma um componente que as amenizasse, não se pode dizer o mesmo quanto aos cuidados. Um bebê recém-nascido precisa de cuidados 100% do tempo e assim é também com a mãe recém-nascida. E de que cuidados ela precisa?

Em primeiro lugar, ela precisa de espaço para aprender a ser mãe. Ela precisa estar focada em sua nova tarefa e pra isso quanto menos demanda que não tenha a ver com isso, melhor. Trabalho e tarefas domésticas, principalmente. Winnicott fala que "um bebê não existe sozinho; ele existe com sua mãe". Eu, modestamente, iria um passo além: "uma mãe não existe sozinha; ela existe com sua comunidade".

Se a mãe recém-nascida precisa de espaço para aprender a ser mãe e para cuidar de fato de seu bebê, alguém precisa cuidar de todos os "detalhes cotidianos", tais como onde ela vai morar (paga-se um aluguel? quem paga?), o que ela vai comer (quem sai para comprar? quem paga? quem prepara?), quem limpa a casa, quem lava as roupas, quem se encarrega dos outros filhos, quem se encarrega dos bichos de estimação, quem cuida das plantas. Não digo que não seja possível a uma mãe recém-nascida sobreviver sem que alguém se encarregue de todas essas coisas, mas qualquer falha seria não ter cuidados 100% do tempo, o que traz sequelas proporcionais às lacunas (pense no que pode acontecer com um bebê que não tem cuidados 100% do tempo...).

Então ok, imaginemos que a comunidade (marido, mãe, sogra, irmãs, cunhadas, amigas, empregados e empregadores), dê conta dos detalhes cotidianos, isso basta? Não, não basta. Na verdade, o espaço mais importante que a mãe recém-nascida precisa é o espaço de deixar com que seus instintos se manifestem. De nada adianta não ter afazeres domésticos, se o espaço é preenchido por palpites, "orientações", julgamentos e críticas. Quem sabe do bebê é a mãe e ela saberá quando e onde pedir ajuda. E se você for o depositário dessa confiança, se a mãe te procurar para pedir ajuda, esteja atento, ouça e procure ser o mais objetivo possível na ajuda oferecida, ou seja, ajude no que for pedido e não que você acha que deveria fazer. Se não estiver apto a dar a ajuda pedida, diga. Ajudar a encontrar ajuda também é uma grande ajuda!

Mais uma vez a Laura: uma mãe saudável tem total capacidade de cuidar de seu filho. Por mais cansada que esteja, ela pode nutrir, trocar fraldas, dar banho, vestir, ninar. Se você quer ajudar uma mãe, principalmente a mãe recém-nascida, não se ofereça para dar banho no bebê; ofereça-se para lavar a louça.

E se a mãe não for/não estiver saudável? Aí sim é necessária alguma intervenção, mas não é cuidando do bebê que você vai resolver... é cuidando da mãe...


Esse texto foi inspirado em um outro, publicado no Blog Minha Mãe Que Disse: "Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. Será?", de autoria da Shirley Hilgert, que também escreve no Macetes de Mãe. Portanto o "mote" foi dela, mas me deu vontade de aprofundar o tema com base nas leituras que venho tendo. Ainda não posso dar o "meu testemunho", mas isso pouco importa ;)

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