segunda-feira, 30 de junho de 2014

Mãe de si mesma

Dizem os psicólogos que todos nós carregamos a criança que fomos. É a tal da criança interior. É um dos aspectos da nossa mente e do nosso emocional (ah, aviso que não sou profissional de área, então já peço desculpa por alguma confusão nos termos. Falo, portanto, de leiga para leigos, mas aceito ajudas e correções dos estudiosos e estudados).

Como criança que é, a criança interior é um poço sem fundo de necessidades, quereres e solicitações. Geralmente é um tanto birrenta e escandalosa, mas tem também a alegria e o encantamento inerentes a esses pequenos seres. É criativa e ativa. Tem muita energia e se entrega completamente aos seus afazeres. Não desiste fácil. Não entende direito responsabilidades, horários e compromissos. Quer fazer o que quer. Mas vive em um corpo de adulto, com agenda de adulto.

Esse adulto, por sua vez, não entende certos rompantes e não gosta quando ouve "para com isso, você tá agindo como criança!". E está mesmo. É a criança interior esperneando porque queria fazer uma coisa e a forçaram a fazer outra.

Essa criança nunca cresce? Me disseram que não... e é melhor que seja assim, porque é ela que nos abastece de criatividade e alegria; é através dos olhos dela que nos encantamos com uma flor; é ela que nos faz parar por uma fração de segundo pra olhar o céu. E são essas pequenas coisas que deixam a gente mais leve, que enchem nossos pulmões com um suspiro profundo, que chega até o coração e dá ânimo pra seguir em frente.

Vale então olhar pra essa criança de vez em quando. Como ela está? Do que ela precisa?

Quando estamos cuidando de uma criança - a de fato, em corpo de criança - fica mais fácil olhar pra nossa criança interior, fica mais fácil entender suas necessidades e seus mecanismos. Às vezes o cuidar de uma criança nutre a criança interior e tenho visto que é possível ser mãe - ou pai - de si mesma/o, mãe da minha criança interior. Mais do que possível, é necessário.

É, na verdade, o eterno e constante trabalho de auto observação, auto estudo, mas com uma ajudinha de imagens e arquétipos. Negociar com a criança interior pode ser mais fácil do que tentar entender e transformar sentimentos abstratos. Basta imaginar aquela criança e conversar com ela. Ela vai te responder, pode ter certeza. Mas lembre-se: criança não esquece! Promessa é dívida. Por outro lado, criança se contenta com tão pouco... geralmente o principal ingrediente é a atenção, e o que vem depois é só alegoria. Você não precisa prometer um tablet. O que a criança quer é que você brinque com ela, nem que seja de jogo da velha. Isso vale pras crianças interiores e exteriores...

Passeie de mãos dadas com sua criança. Vá aonde ela pedir. Fique o tempo que ela quiser. Providencie um bom lanche. E na volta, você verá que não terão problemas para encarar o banho, a lição de casa, o jantar e a hora de ir pra cama. No final, esteja preparado para os mais lindos e inspiradores sonhos.

Trazendo esse exemplo pra nossa relação com a criança interior, a parte do passeio pode durar poucos minutos (e não precisa ser um passeio de fato... pode ser um instante de rabiscar livremente com lápis de cor, ou brincar com um cachorro. Só a sua criança pode te dizer o que será), enquanto que a "lição de casa" dura o dia todo. A escala é outra, mas a inspiração do sonho não tem medida e pode se revelar em um breve lampejo - o famoso insight - ou naquele pique que faz trabalhar e produzir o dia todo e ainda praticar um esporte ou hobby antes de dar o expediente por encerrado.

Onde está sua criança? Do que ela precisa? Onde ela quer passear?

Nenhum comentário:

Postar um comentário