domingo, 15 de maio de 2011

III - Então vamos?

Aqui entra mais um marco nessa história, que é o livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra" (Laura Gutman). Se até agora eu estava vendo que é possível, com esse livro me bateu um sentimento de "ok, vamos lá".

O livro apresenta a maternidade como uma forma extremamente intensa de autoconhecimento. Segundo a autora, a sombra da mãe é expressa no filho, portanto tudo o que o filho manifesta de "incômodo" é uma materialização de coisas mal resolvidas na mãe. A mãe, por sua vez, pode optar por tentar entender a origem daquilo, o que não é fácil, pois se estava relegada à sombra é algo que não queremos lidar e que muitas vezes nem conseguimos acessar sozinhas; ou então pode ir optando por medidas paliativas, por culpar outras pessoas (o marido, a sogra, a própria mãe, o próprio bebê) e aí vai empurrando o problema, que vai se tornando cada vez mais grave, voltando a surgir em outros momentos do desenvolvimento da criança e do adolescente, culminando em adultos emocionalmente frágeis, que vão reproduzir esse padrão e aí, bem, e aí você sabe o que acontece, vide mundo.

Da forma como é apresentada, ou melhor, da forma como eu estou entendendo, a maternidade pode representar um expressivo salto evolutivo. Uma oportunidade única de mexer naquele porão embolorado, jogar as tralhas fora, abrir as janelas e deixar o sol entrar. A tarefa realmente não deve ser fácil... só de pensar meu nariz já coça e busco os lenços de papel. Mas uma bela faxina nunca me assustou e o resultado compensa os espirros e calos nas mãos.

Antes, quando eu não queria ter filhos, eu dizia que essa era uma posição totalmente egoísta, porque eu não queria sair da minha zona de conforto com relação aos rumos da minha vida, tanto cotidianos quanto de longo prazo. Eu estava muito bem com a minha independência e não queria "sarna pra me coçar".

Agora, que a coisa me foi apresentada de outra forma, com um caráter desafiador inclusive, continuo me achando em uma posição egoísta, mesmo que oposta à anterior... é que a vontade de ter filhos, no meu caso, tem a ver com a ideia de aprimorar o meu desenvolvimento enquanto ser humano, enquanto ser humana. Mas vendo assim não considero esse egoísmo negativo (nem sei se egoísmo é o termo correto), pois tudo o que eu quero é me tornar uma pessoa melhor. Não para mim, mas para o mundo. Eu já disse isso: eu quero que o mundo seja um lugar cada vez melhor e a primeira forma de viabilizar isso é que cada pessoa torne-se melhor.

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