quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sei que nada será como antes

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã

Imagino que seja comum entre as mães uma vontade de conseguir voltar a fazer - ou ser - algumas coisas que fazia - ou era - antes da chegada do filho.

Começa pelo corpo. Já voltou ao peso? A roupa já serve? Quando essa pança vai embora? O peito doi? Menstrua? Cai cabelo?

Mas o principal ponto acho que é a autonomia (inclusive pra poder cuidar do corpo!). Quando terei o livre arbítrio (ou a ilusão de) sobre a minha rotina?! Quando poderei novamente colocar as minhas vontades em primeiro lugar?

Sinceramente, aqui do alto dos meus cinco meses de atividade materna, desconfio que a resposta seja NUNCA. Ou, num horizonte mais otimista: quando os filhos forem pra faculdade, rs... ou saírem da faculdade... ou arrumarem o primeiro emprego... até começar tudo de novo quando chegarem os netos!

Mas nessa dicotomia entre ser uma nova pessoa e querer voltar a ser quem se era vejo dois extremos igualmente nocivos: as mães que forçam uma volta da autonomia, criando carências nos filhos, e as mães que se doam exageradamente ao ofício materno, sufocando necessidades pessoais que, mais cedo ou mais tarde, explodirão.

Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

A meu ver, a forma de evitar qualquer um desses extremos é o autoconhecimento, a auto-observação. É trazendo consciência para cada gesto, ainda mais quando a decisão de ter um filho foi feita de forma planejada, mas mesmo que não tenha sido, nunca é tarde pra tomar uma atitude consciente.

Antes de querer forçar a volta de uma autonomia, é bom refletir sobre o que essas pequenas vidas, que dependem de cada uma de nós, representam. Vale a pena considerar que alguns sacrifícios nos primeiros meses podem representar um aporte de segurança e autoconfiança para toda uma vida (que podem inclusive te dar mais autonomia, por ter um filho seguro e autoconfiante).

Eu diria que até os seis meses não há motivo pra pressa. É pra isso que existe licença maternidade. Nada melhor do que ficar lambendo a cria. Todo o resto pode esperar!

Eu digo seis meses porque é o tempo recomendado para amamentação exclusiva, mas claro que outros fatores podem e devem ser levados em consideração, inclusive se você não tem licença maternidade, ou ela é menor.

Por outro lado, mesmo nessa fase de doação completa, onde todo o resto pode esperar, não quer dizer que a mãe vá esquecer de si mesma, muito pelo contrário. Estar bem é condição fundamental para cuidar de alguém. Faz parte dos desafios maternos incluir pequenos cuidados para si na rotina diária. Um banho mais demorado, um creme, uma ida ao cabeleireiro, comprar uma roupa, cuidar da casa (enquanto parte legal de "arrumar o ninho", não como escravidão doméstica de lava-limpa-arruma).

A importância desses cuidados está também no exemplo que é dado ao filho. Um filho (ou filha) que cresce vendo a mãe se anular, vai aprender a ignorar suas próprias vontades, vai aprender que cuidar de si "não é importante". E pode ainda ser vítima de um certo amargor que acaba ficando por trás da entrega exagerada da mãe, o que a longo prazo pode se transformar nos mais diversos desequilíbrios e patologias - para ambos.

Resumindo: tudo bem querer voltar ao que era, tudo bem querer cuidar plenamente do filho, desde que as vontades e seus reflexos sejam conscientes. O problema não é expressar o cansaço, mas não se dar conta dele. E assim ele vai crescendo, crescendo, até que seja impossível não notá-lo, mas quando chegar nesse ponto, é possível que nem se lembre mais por que ele começou...


Nossa primeira aventura solo com mamãe motorista! Ter quatro rodas é uma baita de uma autonomia ;)

2 comentários:

  1. Que lindos vcs, me emocionei!
    Sabe que dar lugar as minhas necessidades (reconhecê-las como legitimas) é um dos desafios da minha maternagem, mas depois que eu tomei consciência disso melhorei muito! Linda jornada querida, é delicioso acompanhar vcs!

    beijos, com amor!

    Ah, hj tô indo pintar as unhas de vermelho!

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  2. Eu acabei de ser mãe, Morena está com um mês e meio e concordo muito com o que você escreveu. Ainda estou caminhando tentando encontrar uma brechinha pra olhar pra mim e meu grande objetivo agora é conseguir fazer as unhas.
    beijocas

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