quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Relato de pré parto

Já faz um pouco mais de duas semanas que estou em "trabalho de parto". Calma, rs... as aspas justificam-se. É que desde que estava na 37a. semana de gestação comecei a preparar o cenário, o figurino, a iluminação, a sonoplastia... até o roteiro para o tal do grande dia! E dá trabalho, né? Desde então muitos ajustes já precisaram ser feitos e a cada dia que passa um detalhe é adicionado. E parece que se eu viver toda uma vida pra esse preparativo, sempre terá alguma coisa a ser mexida, adicionada, repensada, transformada.

Tem sido bem interessante e um tanto quanto intenso. Muito, muito trabalho interior. Muitas descobertas de recônditos escondidos de minh´alma. Fico pensando nas coisas que vou escrever sobre esse parto. Fico pensando em como vou contar, que tom vou dar, que cores vou usar. E me pego num sentimento de que as experiências só são completas pra mim quando escrevo sobre elas. Ora pois, o que estou esperando então?! Vou começar já a contar o que está se passando por aqui!

Mas inevitavelmente penso "e se for uma cesárea?!". O primeiro reflexo é pensar que se for uma cesárea terá sido um fracasso de tudo o que eu quero contar. Por que eu vou contar toda orgulhosa sobre os insights que tive, se "no fim não deu certo"?! Tá, tá bom. Se eu sair dessa inteira o suficiente pra contar alguma coisa, terá dado certo. Tá, tá bom, o que importa é que mãe e bebê estejam bem. Eu sei, eu já passei por isso. Eu já passei por um sonho de parto natural que acabou numa cesárea que acabou bem.

Não que eu estar bem e meu filho estar bem sejam um prêmio de consolação. Longe disso. Não é um consolo, é um objetivo. Estarmos bem. Então não terá dado errado. E poderei falar tranquilamente dos meus insights pré-parto, rs...

Ao mesmo tempo parece que os "aprendizados" que venho tendo só serão validados se o desfecho for do jeito que eu quero. Algo como, ok, eu até deixo a vida me ensinar, mas eu tenho que criar um sistema de avaliação e indicadores quali-quantitativos pra verificar se aprendi mesmo!

E agora?

Tenho ouvido tanto sobre isso nos últimos anos. Sobre a importância de descondicionar, de abrir mão do controle (ou da ilusão do controle), de olhar e sentir o agora, de agir conforme o agora e não conforme regras e métodos pré-estabelecidos. Isso é tão fundamental ao lidar com crianças pequenas! Desde o parto... ah, o parto!

Não quero que o parto transforme-se num indicador. Mesmo porque, se acontecer de ser um parto natural, será esse meu diploma?! Vou sair por aí dizendo "olha, é importante descondicionar, abrir mão do controle, viver o agora", com um carimbo "parto natural" embaixo?! Não dá, né?

Então falo agora, com ou sem parto, com ou sem cesárea: é importante descondicionar, abrir mão do controle, viver o agora! E quem sou eu pra dizer isso? Qual é meu currículo? Quais são meus diplomas? Poderia dizer que minhas cicatrizes são meus diplomas. Poderia dizer que minha vida é meu currículo. Mas pra quê? Que importância isso tem? Por que eu preciso ter - e provar - credibilidade pra você?

Eu não quero provar nada pra ninguém. Eu não quero ser exemplo de nada. Não mesmo.

Eu quero que minha vida interesse a você assim como qualquer vida deveria interessar a qualquer ser vivo. Eu conto da minha vida pra me ouvir contando. Porque eu gosto, porque quando me ouço, cresço. E conto também pra quem sabe ter com quem conversar, e conhecer novas vidas e novas faces dessas vidas. Porque isso me fascina.

A Vida me fascina, me encanta, me surpreende, me entretém, me dá ideias, me cria hipóteses, me faz testá-las. E como é bom fazer isso com a seriedade e o descompromisso de uma criança. Enquanto alguém paga minhas contas. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra?! Estou chegando perto disso também... desse tabu de não trabalhar, dessa sensação de que o trabalho é sagrado demais pra ser trocado por dinheiro. Eita! Quanta coisa foi aparecendo enquanto fui escrevendo!!!

Mas por enquanto vou ficando por aqui... com essa questão do trabalho pairando no ar. O trabalho, que abriu esse texto e que o fecha.

Por enquanto.


2 comentários:

  1. Reflexão bonita, Carol! Gosto muito de te ler! Tenho uma curiosidade, porque você não escreve sobre a história desse termo "trabalho de parto"? Acho muito curioso, imagino que seja um trabalhão mesmo, e que na verdade dure desde uns meses antes do "parto" até um bom tempo depois... enfim, nós aqui de casa enviamos as melhores energias e vibrações para vocês e já cheioa de alegria que essa família querida vai ganhar mais um querido! Beijos e seja qual o "formato" que seja tudo bem, que é o principal objetivo mesmo!

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  2. poxa vida... falar isso para uma capricorniana é um tapa na cara...rsrsrs pra quem quer ter o controle de tudo.... parece até instintivo...já tentei milhões de vezes e sempre quebro a cara.... e tb me pego pensando no parto,a cada mexida mais inusitada dela, já penso... será que virou? ela estava encaixada, ai meu Deus...como será??? Mas ultimamente venho pensando que, por ser minha ultima gestação, olha o controle pairando no ar, rsrsrs, não queria que acabasse... queria ficar mais um tempinho assim...parece loucura, né??? essa sensação de te-la junto a mim, protegida no meu ventre é indescritível...mas vamos deixar a água correr calmamente e seguir a vida... que venha a hora que quiser e do jeito que tem que ser... estarei pronta...sempre! Boa hora pra vc Carol!!!bjosjss

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