quinta-feira, 14 de setembro de 2017

tanta coisa por fazer

os dentes por escovar, o cabelo por arrumar, o abdômen por malhar, a sobrancelha a engrossar

a roupa limpa por dobrar, a roupa dobrada por guardar, a roupa suja por lavar

brinquedos que se amontoam, se misturam, se espalham
miudezas aqui e ali que passeiam pela casa, nômades

os lençois e fronhas, promíscuos, ousados, que insistem em testar novos pares e sorrateiramente escapam entre gavetas e prateleiras, acordando amarrotados em leitos adúlteros

folhas secas no chão esperando a vassoura
folhas secas nas árvores, rindo da vassoura

linhas, linhas e mais linhas por crochetar, tricotar, bordar
materiais e ideias que se acumulam, sobrepõem, provocam

as verduras na geladeira esperando um destino
as panelas vazias, à toa - ao menos estão limpas

a terra seca esperando alguma água

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e o bebê, milagrosamente, dooooooooooooorme

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tanto sol, tanta pele por dourar
tanta água por banhar
tanta vista por ver
tantas trilhas e estradas por percorrer

tanta casa linda por habitar
tanta cama por dormir

tanta comida por comer

tanta rede por preguiçar

tanto, tanto, mas TANTO livro por ler
tanto filme por ver
tanta música por ouvir

tanto amigo pra visitar

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e eu aqui, no sofá, inerte
sem saber por onde começar
ou por onde continuar

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e o bebê, inesperadamente, doooooooorme

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mas basta eu me mover e ele acorda, certeza
então não me movo
fico aqui
escrevendo o que está por escrever

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