sábado, 13 de setembro de 2014

Amamentação em livre demanda: até quando?

Eu sempre achei amamentação em livre demanda a coisa mais óbvia do mundo. Se o nenê chorou, a primeira coisa a fazer é dar o peito. Se o nenê não chorou, não tem por que querer que ele mame (ok, em alguns casos precisa intervir, mas são situações especiais, que devem ser avaliadas em conjunto com a equipe que cuida da saúde do bebê).

Pra mim, fluiu muito bem. É certo que no começo o Joaquim ficava muuuuuuuuuuuito tempo grudado e isso me cansava demais. Mas passou, sobrevivemos e o stress não foi maior do que minha determinação de amamentá-lo de forma exclusiva, sem bicos, sem chupeta.

Aí começa a introdução alimentar, que interfere um pouco na coisa da livre demanda, mas eu continuei dando preferência à amamentação. Até que a pediatra começou a achar que o Joaquim estava ganhando pouco peso. Nisso ele tinha por volta de um ano. Ela receitou umas vitaminas, deu umas dicas, falou pra evitar mamadas antes das refeições, mas na prática não consegui mudar minha rotina.

Só que na próxima consulta, ele com 1 ano e 4 meses, continuava com o mesmo peso. Ela falou que não era grave, pois ele estava crescendo bem em tamanho e isso é o mais importante, mas disse que seria bom dar uma atenção ao aspecto do peso também. Conversamos melhor, eu  falei da minha dificuldade em dar comida pra ele (tanto pra mim quanto pra ele é muito mais prático que ele mame!), da minha dificuldade em identificar a fome dele antes que ele fique resmungando, porque aí só mamando pra resolver, falei que sozinha eu não conseguiria que ele comesse mais, justamente porque quando ele está só comigo ele acha que "não precisa" comer, já que "pode" mamar.

Eu consegui me abrir e me expor de uma forma que eu não imaginava que conseguiria. Ela simplesmente me respondeu que eu precisava resolver em que que eu acreditava, porque a partir do momento que eu acreditasse, eu conseguiria. A conversa foi boa, não saí de lá com nenhuma receita, com nenhuma determinação, mas com várias interrogações e exclamações, ou seja, do jeito que eu gosto!

Foi preciso digerir por alguns dias, até que a ficha me caiu: uma coisa é respeitar os instintos de um bebê que acabou de chegar ao mundo, que estava habituado com um ambiente completamente diferente, que precisa do máximo de amparo, aconchego, conforto; outra coisa é deixar com que uma criança de um ano delibere sobre a própria vida, sobre a rotina da casa, sobre a rotina da sua mãe.

Resolvi então substituir a "livre demanda" por "quem é que manda". Não gosto da coisa de "impor limites", mas concordo que as crianças precisam de contorno, senão elas ficam perdidas, desamparadas, boiando em um mar de emoções desconhecidas e assustadoras.

E quando que um bebê passa a ser criança? Só você, mãe, pode responder e essa resposta só vai valer para o seu filho. Se precisar de uma definição mais genérica, desconfio que tenha a ver com o desenvolvimento do caminhar e da fala.

Pois bem, expliquei pro Joaquim que nosso esquema ia mudar (eu sempre explico as coisas pra ele). Disse que ele precisava comer mais e que pra isso ele iria mamar menos e em horários que eu determinasse. Deixei claro que não estávamos desmamando, mas apenas organizando. Logo de cara já combinei que seria uma vez de manhã, uma vez à tarde, uma vez à noite e uma de madrugada (ui!).

Paralelamente implementamos coisas que já tínhamos identificado que faziam diferença na rotina com a comida, como dar comida pra ele separado da gente (a mesa cheia de coisas vira um mundo de atrativos e pretextos pra não querer colocar a colher na boca). Sem falar na coisa de horários e rotinas, que é um desafio constante na minha vida.

A presença e ajuda do pai foi fundamental. Minha mãe também ajudou e ajuda bastante. E minha cabeça caraminholando foi caminhando nos insights. Lembrei que a Laura Gutman fala que o bebê é um fiel companheiro e que ele nunca vai deixar sua mãe em apuros. O bebê que não dorme e/ou que solicita demais o peito é porque provavelmente sente sua mãe só, desamparada, e faz questão de ficar com ela, como que dizendo "você não está sozinha, eu estou aqui!".

Laura, minha guru na maternagem, também fala que não é necessário resolver a questão, mas simplesmente olhar pra ela e isso vai liberar o bebê.

Então tratei de explicar mais isso pro Joaquim: que se eu me sinto sozinha, não é responsabilidade dele me fazer companhia; que quando eu fico triste ele não precisa se preocupar, porque eu sei me cuidar, porque eu tenho quem cuide de mim e porque sou eu que cuido dele e não o contrário.

Mesmo com essa clareza toda, de olhar para questões mais profundas, de confiar na capacidade dele de entender, ainda me espantei com a rapidez que a mudança aconteceu!

Durante o dia foi tranquilo, no primeiro dia já conseguimos e já vi o reflexo no volume de comida. Na madrugada não foi tão simples, custou muito choro, muito cansaço, muita conversa (nem sempre amena, é verdade, mas também acho que uma fala mais enérgica bem colocada é fundamental).

Por outro lado, qualquer alteração na rotina, como uma viagem, por exemplo, abala tudo. Aí é preciso fazer concessões, ceder, retomar. Quando eu estou sozinha com ele o dia todo e fico muito cansada, também abro minhas exceções, de forma clara e consciente.

Ainda assim, temos feito grandes progressos.


2 comentários:

  1. Oi, querida!
    Ontem, quando conversamos, não tinha ainda lido essa sua postagem... E conversa de festa é sempre um tumulto, né... Que legal que as coisas estão fluindo. Vou te dizer: ainda hoje a palavra "desmame" me agride de alguma forma, não gosto dela. E sei que a condução da amamentação em termos que me agradassem deve muito muito mesmo à terapia, ao processo de entender que ela é uma relação, que qualquer relação são dois polos, que os dois precisam estar bem e que, no final das contas, mãe e filho não são dois iguais e a responsabilidade em conduzir as coisas é nossa...
    Uma certa época eu li um texto que me permitiu muitos insights, talvez você já conheça: http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com.br/2013/05/teoria-do-apego-no-brasil-o-buraco-de.html
    Por fim, preciso dizer: Joaquim é mesmo liiiindo...
    Beijos e tudo de bom pra vocês!
    Carol

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  2. Oi Carol! Adorei te ver e ver a Teresa, que menina linda, a coisa mais doce! Também aproveitei pra dar uma lida no seu blog, fazia tempo que não ia lá. Me diverti à beça :)

    Obrigada pelo apoio e pelo texto, vou ler.

    Beijos!

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