terça-feira, 9 de outubro de 2012

O direito sobre o próprio corpo

Já faz um tempo que vi uma campanha para legalização do aborto que colocava esse argumento, o de que as mulheres devem ter direito sobre o próprio corpo. Aquilo ficou maturando dentro de mim e agora acho que consigo escrever um pouco sobre o tema.

Eu realmente acho muito estranho que o Estado regule algumas coisas, que deveriam ser decididas caso a caso e pelos principais envolvidos. Mas por outro lado, entendo que existe um interesse coletivo nas ações individuais, uma vez que vivemos em sociedade e que nossas decisões interferem na vida alheia, em maior ou menor grau, agora ou daqui a pouco.

E justamente por ver as coisas assim, acabo não conseguindo me posicionar... penso que em uma sociedade ideal (e, portanto, utópica), cada indivíduo teria clareza e ajuda para resolver seus conflitos, sem a necessidade de leis; e resolvendo dessa forma, seria preservado o bem estar pessoal e, consequentemente, o coletivo. Não sei se simplifiquei demais, mas acredito que pessoas que empreendem uma busca genuína de autoconhecimento e que são acompanhadas por pessoas mais experientes (por mais experiente entenda-se com mais estudo e com mais vivência em determinado tema), são pessoas que tem como tomar decisões mais acertadas.

De qualquer forma, acho que deixar as decisões nas mãos de outros - seja o Estado, a Igreja ou o patrão - nunca é um bom caminho... parece que estou conseguindo me posicionar...

Mas deixemos de lado um pouco as questões legais para pensar na coisa em si.

De antemão já digo que aborto nunca foi um caminho elegível para mim. Mesmo nos sustos da adolescência, realmente nunca passou pela minha cabeça essa possibilidade. Ok, é bem provável que eu tenha mais medo de procedimentos médico-cirúrgicos do que de ser mãe, então não me coloco em nenhuma categoria "nobre" e nem defendo nenhuma grande ideologia. É medo de agulha mesmo!

Mas agora, depois de ter passado por um aborto espontâneo e estando grávida, consigo ver as coisas de outro prisma... e digo, já sabendo que estou cutucando polêmica, que decidir sobre outra vida não é a mesma coisa que ter direito sobre o próprio corpo.

Uma vez que houve aquele antológico encontro entre óvulo e espermatozoide, uma nova vida começou. Uma NOVA vida, uma OUTRA vida. Não se trata mais do seu corpo... e essa é uma coisa que tenho aprendido a duras penas... não se trata mais do meu corpo... a partir do momento em que ele é base para a formação dessa outra vida, não sou mais só eu e isso é MUITO louco!

Veja, se você já fez um aborto, não quero te atacar e muito menos te fazer se sentir mal. O que está feito, está feito. E tenha compaixão consigo própria, confiando que naquela situação aquela era a única decisão viável, simplesmente porque foi a que foi tomada. Trate de curar as feridas e seguir em frente...

E de qualquer modo, não escrevo para fazer nenhuma campanha, mas apenas para dar minha contribuição pessoal à discussão.

É fato que um filho implica em muitas mudanças, algumas das quais eu vislumbro e outras que certamente nem tenho ideia. É fato que muitas pessoas não se sentem preparadas para serem mães/pais, mas, sinceramente, quem tem essa segurança?

E se não for o melhor momento pra ter um filho? Me responda: quando será?!

Temos instrumentos anticoncepcionais suficientes para ir adiando até o "melhor momento", mas se esses instrumentos falham, não seria uma boa oportunidade para repensar o posto de "comando" em que nos colocamos frente à natureza?

Sei que existem muitas outras questões... às vezes é muito cedo, às vezes a escolha do pai foi infeliz... (pobres pais... quase nem chegam a fazer parte da discussão... quase que uma desforra feminina ao autoritarismo masculino...).

Eu sinceramente não sei o que traz mais prejuízo à sociedade, se um filho indesejado ou se uma mulher mutilada... mas desconfio que em ambos os casos o ônus é de todos e a responsabilidade também. Se nossas ações refletem nos outros, também somos vítimas de ações alheias e dessa forma não dá pra "jogar a culpa" em ninguém... a única saída é se ajudar, é estar atento ao outro, é estar disponível. E isso não quer dizer se alistar em algum programa de voluntariado, mas simplesmente olhar para a própria família, para os amigos próximos, o que muitas vezes é mais difícil, mas justamente por isso, mais necessário.

Se tem alguém sofrendo de solidão é porque outro alguém lhe nega companhia e apoio. Quem é você nessa história?


2 comentários:

  1. Adorei: "decidir sobre outra vida não é a mesma coisa que ter direito sobre o próprio corpo".
    Acho que você foi muito feliz nessa frase. Um ótimo resumo.

    Parabéns pelo blog e pelo bebê!
    beijos, jo

    ResponderExcluir