quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Televisão para bebês e crianças. Fuja!

Eu já dei meu relato da vida sem TV, que publiquei no Aralume. Mas tenho andado preocupada, triste, incomodada com o tanto que a televisão faz parte da vida de crianças e até mesmo de bebês. Poxa vida pessoal, expor um bebê, de menos de um ano, a uma televisão é algo que me arrepia os cabelos. Mas como meus cabelos não estudaram em Harvard, nem fizeram doutorado em comportamento humano, chamei pra essa conversa um neurocientista, o John Medina, que escreveu um livro que tem me ajudado muito chamado A Ciência dos Bebês. Não é nada bicho grilo, é baseado em pesquisas científicas e traz dados e recomendações muito importantes.

O que eu gostaria é que os pais pensassem, tivessem consciência do mal que a televisão faz para seus filhos. Não é uma bobagem, não é um simples divertimento, não é a hora do descanso e, principalmente, não estimula vocabulário, nem cognição, nem nada de bom. Ah, deixa eu ficar quieta. Vamos ao livro:

Algumas convenções pra deixar a leitura clara e honesta:

Os grifos são meus.
"Aspas" são pra indicar que a citação é ipsis litteris
(comentários entre parênteses são do próprio texto)
(...) indica que houve um corte no texto original. Cortei detalhes sobre as pesquisas e exemplos.
[comentários entre colchetes são pra ajudar a contextualizar o fragmento do texto]
{comentários entre chaves são dessa pessoa inquieta que não consegue não opinar!}

"A pesquisa cerebral nos afirma que também existem várias toxinas [para o desenvolvimento cerebral e comportamental de um bebê]: forçar a criança a cumprir tarefas para as quais seu cérebro ainda não atingiu o desenvolvimento necessário; estressá-la até o ponto que em psicologia se intitula "desamparo aprendido"; e, para os menores de dois anos, a televisão."

"O problema da exposição das crianças à TV não solta tanta faísca como antes. Há um consenso geral de que se deveria limitar a exposição de uma criança a qualquer tipo de televisão*. Também há consenso geral de que ignoramos totalmente esse conselho."
*mais adiante o autor deixa claro que quando se refere à televisão está, na verdade, se referindo a todos os tipos de telas digitais, incluindo computadores e tablets.

"O certo é que a quantidade de TV que uma criança deveria ver antes dos dois anos de idade é zero."

"A TV pode provocar a hostilidade, perturbar a concentração. (...) A TV também envenena a amplitude da atenção e a capacidade de se concentrar. Cada hora adicional diante da TV, para uma criança de menos de três anos, significou um aumento de cerca de 10% na probabilidade de ter problema de atenção quando chegar aos sete anos. Portanto, um pré escolar que assiste a três horas de TV por dia tem probabilidade 30% maior de sofrer problemas de atenção do que uma criança que não assiste à televisão."

"Até mesmo manter-se a TV ligada quando ninguém está assistindo - exposição indireta - também pareceu prejudicial, talvez por desviar a atenção."

Abaixo, o autor transcreve uma recomendação da Associação Norte-Americana de Pediatria:
"Os pediatras deverão insistir com os pais para evitar que as crianças assistam à TV antes dos dois anos de idade. Embora certos programas possam ser destinados a crianças dessa faixa etária, a pesquisa sobre o início do desenvolvimento cerebral demonstra que os bebês e as crianças pequenas tem necessidade fundamental de interação direta com os pais e com outros cuidadores importantes, para um crescimento saudável do cérebro e um adequado desenvolvimento das capacidades social, emocional e cognitiva"

"Ela [a TV] afeta tanto a capacidade de leitura quanto a aquisição da linguagem. Mas depois dos dois anos de idade os piores efeitos sobre os cérebros infantis talvez ocorram porque a televisão afasta as crianças das atividades físicas" {em outro capítulo o autor fala dos videogames, incluindo aqueles que estimulam a movimentação, como Wii e Xbox... as notícias não são animadoras...}

Finalizando o capítulo:
"Portanto, apesar de a maioria esmagadora confirmar que a exposição à televisão deve ser limitada, não se deve fazer dela um bicho de sete cabeças. Os dados sugerem algumas recomendações:
1. Mantenha a TV desligada antes de a criança completar dois anos {sorte dos irmãos mais velhos, que terão que esperar o(s) caçula(s) completar(em) dois anos!}. Eu sei que é difícil ouvir isso quando se é pai ou mãe e se precisa de uma pausa. Se você não puder desligar (se não criou uma rede social que lhe permita um descanso), pelo menos limite a exposição do seu filho à TV. Afinal, nós todos vivemos no mundo real, e um pai irritado e insone pode ser tão danoso para o desenvolvimento do filho quanto qualquer irritante dinossauro roxo.
2. Depois dos dois anos, ajude seus filhos a escolherem os programas (e outras exposições a telas). Preste especial atenção às mídias que permitem interação inteligente. {o autor não define o que é "interação inteligente" e isso me preocupa, porque não acredito na definição que os fabricantes de jogos dão!}
3. Assista junto com seus filhos aos programas de TV escolhidos, interaja com a mídia, ajude-os a analisar e pensar de modo crítico sobre o que acabaram de assistir. E pense duas vezes antes de instalar um aparelho de TV no quarto das crianças. As que tem o seu próprio aparelho de TV obtêm médias 8 pontos inferiores nos testes de matemática, linguagem e artes do que as que só assistem à TV na sala de estar da família."

O próximo capítulo é sobre os videogames e não vou entrar nesse assunto. Recomendo fortemente a leitura do livro.

E se você é um pai, mãe ou cuidador um pouco mais sensível, recomendo a literatura da pedagogia Waldorf, o método educacional da antroposofia. Eles sim são mais radicais, mas concordo plenamente com todos os argumentos e é por isso que não temos televisão em casa.

Vale lembrar que se os pais assistem televisão, as crianças também vão querer assistir. Precisa ser muito firme pra manter a disciplina e isso pode ser mais estressante do que abrir mão da televisão e dar um jeito de entreter as crianças.

Esses dias andei lendo sobre o método Montessori de pedagogia e simpatizei bastante. Umas das coisas que eles pregam é a importância de ensinar a criança a brincar sozinha. Atenção: não é fazer com que ela só brinque sozinha; nem é para deixá-la sozinha. É pra estar junto, mas cada um com suas tarefas. O adulto perto, apoiando com sua presença e seu olhar. Vale a pena dar uma olhada nessa postagem do Lar Montessori, com dicas simples e que fazem grande diferença na relação pais e filhos.

Outra coisa que ajuda, no caso de crianças bem pequenas, é organizar a casa de forma que ela fique mais segura, ou seja, colocar as coisas perigosas no alto e as coisas não perigosas em locais acessíveis. Não me vá levantar tudo e deixar a criança com aquela sensação de que tudo é longe e inalcançável! Haja terapia pra resolver isso depois... mas, enfim, aqui em casa, que temos um bebê engatinhante e escalante, reorganizei todos os armários da cozinha. Nos mais baixos deixei coisas que não quebram e não machucam, como potes de plástico (sim, ainda tenho alguns, rs...), panelas (as de inox não amassam), embalagens de alimentos fechadas, eletrodomésticos (Joaquim ama brincar com o liquidificador e a máquina de fazer pão. E não, não estraga). Ele desbrava a cozinha e eu cozinho. Além de tudo, peças de cozinha são ótimos brinquedos, tem cores, formas, materiais, sons e texturas variadíssimos.

Enfim, observe qual o papel da televisão na sua casa e qual a necessidade dela. Faça isso com consciência, com clareza e honestidade. Eu tenho certeza de que você tem um pouquinho mais de energia pra dedicar pro seu filho, seu tesouro, luz da sua vida e coisa mais preciosa do mundo!

Pra finalizar, recomendo um blog muito bacana, que conheci há pouco tempo e que tem escritos valiosos pra quem quer proporcionar uma infância mais digna a seus filhos. O nome não poderia ser melhor: Antes que Eles Cresçam.

Porque a infância é curta, mas o que acontece nela ecoa para o resto da vida!

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