quarta-feira, 10 de abril de 2013

Deixa chorar


A ideia de deixar um bebê chorando sempre me foi estranha. Depois de ler Laura Gutman, Carlos Gonzalez, Frédérick Leboyer, o Blog do Cacá e algumas outras coisas, vi que mais do que estranho, deixar um bebê chorando é uma grande violência. Agora, que tenho um bebê sob meus cuidados, isso é absolutamente impensável!

Só de imaginar um bebê chorando sozinho, eu choro. Gente, como pode uma mãe ficar indiferente ao choro do filho?! Ou, como pode uma mãe sofrer pelo choro do filho, mas mesmo assim deixá-lo chorar, porque alguém disse que "faz bem pros pulmões", ou que se pegar vai ficar mal acostumado?!

O livro Shantala, do Leboyer, que descreve uma técnica de massagem para bebês, começa com um texto lindíssimo sobre o nascimento. Ele indaga quando que a vida começa, se seria no nascimento, mas diz que a vida começa no útero. Então o que começaria com o nascimento? O medo. Ele fala também da fome, essa sensação inédita pro pequeno ser. Fome de leite e fome de contato.

Dentro, a fome
fora, o leite.
E, entre os dois,
a ausência,
a espera,
sofrimento indizível.
E que se chama
tempo.

(...)

É preciso alimentar os bebês.
Sem dúvida alguma.
Alimentar a sua pele tanto quanto o ventre.

(...)

Os bebês tem necessidade de leite.
Mas muito mais de ser amados
e receber carinho.

E tem ainda outra coisa, que me passou na cabeça nas longas horas de mamadas do Joaquim... se pra mim é difícil assimilar a nova fase, pra ele deve ser muito mais! Minha vida virou de ponta cabeça, mas eu vinha me preparando, eu tenho muito apoio, etc... e ele? Pra ele é TUDO novo e esse medo de que fala o Leboyer é muito real. Dá pra ver o medo nos olhinhos dele cada vez que o peito demora milésimo de segundo pra chegar na boca, cada vez que ele sente frio, ainda que eu saiba que também é por pouquíssimo tempo até fechar o macacão. Não dá pra fazer vista grossa a esse medo...

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Preceito Moderador

Foi logo nos primeiros dias com o Joaquim que eu lembrei daquele aviso de segurança que recebemos nos aviões: se precisar ajudar uma criança a colocar a máscara de oxigênio, primeiro coloque em você e depois na criança.

Ou seja, o bebê quer mamar e já começa a dar seus resmungos, mas preciso fazer xixi, por exemplo. Primeiro vou ao banheiro, mesmo que isso implique num pequeno choro, pois assim eu estarei mais confortável e poderei cuidar direito do bebê. Isso serve também pra quando estamos com fome, frio, enfim, condições básicas de conforto, que se não são satisfeitas não vão nos deixar totalmente entregues para o que o bebê precisa.

Isso geralmente nem vira um choro "de verdade" e faz toda a diferença.

E tem também as situações em que o choro "engrena", mas também por uma boa causa. Por exemplo: estou exausta, fiquei com o bebê o dia todo, ele não dorme e preciso desesperadamente de um banho (que representa também preciosos minutos de "retorno ao que eu era", de momentos "de mim comigo mesma"). Se tem alguém que possa ficar amorosamente com ele no colo (pai, avó...), mesmo que ele chore, corro pro banho e me dou esses instantes... saio revigorada e posso me dedicar a ele com muito mais leveza e entrega! Felizmente por aqui é raro lançar mão desse recurso, mas acho totalmente válido... vital, eu diria!

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