O puerpério é esse tempo de pós-parto, com duração meio indefinida, mas podemos assumir a antiga "quarentena" ou "resguardo". É um período muito delicado, por motivos óbvios, tais como ter um bebê que depende exclusivamente e full-time de você, mas também por motivos menos conhecidos ou negligenciados.
O cérebro da puérpera - essa que vos fala, por exemplo - opera em outra frequência, em outro ritmo, COMPLETAMENTE diferente dos demais seres humanos. Perguntas, por exemplo, me atordoam. Hoje me dei conta de que o que eu mais tenho dito ultimamente é "não sei". O que vamos comer hoje? NÃO SEI. O que você quer comer hoje? NÃO SEI. Como você prefere tal coisa? NÃO SEI. Quantas vezes o Joaquim mamou hoje? NÃO SEI. Quanto ele dormiu da última vez? NÃO SEI. E as perguntas quantitativas são as piores! Que horas, quantas vezes, quanto, quanto, quanto??? NÃO SEI, NÃO SEI, NÃO SEI!!! E sabe do que mais?! Não QUERO saber!
E quando a gente sabe, mas não consegue formular uma resposta? Mutcho loco!
Isso acontece por causa dessa outra frequência e outro ritmo cerebrais, corporais, emocionais, espirituais, mas também por causa do cansaço.
E como cansa, minha Nossa Senhora do Bom Puerpério! (interessante como o parto é cercado de cuidados, métodos, relatos, Nossas Senhoras e Boas Horas e acaba tudo que nem nos contos de fada: a princesa e o príncipe se casam e simplesmente "viveram felizes para sempre"! É aí que a vida começa, meus caros, e resumir a vida em "felizes para sempre" é a maior sacanagem... bom, com a chegada de um filho é mais ou menos assim e eu sabia. Não posso dizer que ninguém me avisou, mas teoria é uma coisa e prática é outra).
Enfim, cansa demais e isso também traz confusão mental, dor nas costas e aquela sensação de peso sobre os ombros, como se o mundo inteiro estivesse lá, tipo o Atlas, da mitologia grega, sabe?
E cansada tudo adquire proporções desproporcionais. Uma coisinha vira uma coisona em fração de segundo. O caldo entorna mesmo e pra voltar a uma situação um pouquinho mais digna precisa de muita paciência de quem está em volta.
Eu acho que o que mais cansa é a disponibilidade, é não ter tempo e espaço para exercitar os quereres, que nessa confusão podem ser tão simples como passar um creme no rosto ou escrever no blog. E é instantâneo como o bebê capta e reflete esse estado. Eu fico irritada, ele se irrita, não dorme, eu fico mais cansada, me irrito mais e ele além de não dormir, chora, aí eu choro também e esse choro é o pedido de ajuda que não tinha conseguido sair em forma de palavras, que nem o bebê. Mas é um mecanismo eficiente, porque palavras podem ser ignoradas, mas ignorar um choro, de recém-nascido ou de recém-parida, não é coisa que se faça.
Nessas horas a gente precisa de apoio. Sem perguntas, por favor. Sem foco no bebê, pelamordedeus, deixa ele quietinho no meu colo. Ou então espere a pobre puérpera dizer: você pode ficar com ele um pouquinho enquanto eu tomo banho?
A mãe cuida full-time do bebê. Cuida, cuida, cuida. Amamenta, troca, dá banho, faz carinho, diz palavras doces, cuida, cuida, cuida. TODA a atenção, TODA a energia está voltada pro bebê, mas ela também precisa de cuidados e alguém tem que se encarregar disso. É controverso, mas a mãe que cuida não pode se cuidar. Não cabe.
E por enquanto tá bom desse capítulo, que o Joaquim acordou :)
_______________________________________________
Algumas pessoas me falam que não conseguem deixar comentários aqui no blog e acho isso uma pena, porque os comentários enriquecem muito! Quando você não conseguir, me mande um e-mail ou mensagem no Facebook que eu ajudo :)
Segue uma mensagem que recebi da Cibele, que foi minha companheira de trabalho de campo no mestrado e atualmente é mãe do Dante e professora universitária. Acho importante publicar, pra quem estiver passando por isso não achar que ficou louca (ou achar que ficou sim, mas que é normal - por mais paradoxal que isso possa parecer, rs...).
Carol, como eu me assustei com a chegada de Dante! Justamente por essas razões q vc descreveu tão bem... Desde sempre eu quis ser mãe, acompanhei o nascimento e os primeiros meses de 3 sobrinhos, e além disso sempre fui pé-de-boi pra trabalhar. Por essas razões, acreditava (pobrezita de mim) que tiraria de letra os cuidados com o Dante. Menina, na hora q eu cheguei em casa e me dei conta do q era REALEMNTE cuidar de um filho, me desesperei. Não conseguia dormir de tanta ansiedade por acreditar (piamente) q não daria conta. Várias vezes eu esquecia de almoçar, de escovar o dente, de pentear o cabelo. Fui no psiquiatra: 'doutor, acho q estou com depressão pós-parto...' e contei tudo. Ele sorriu docemente e me deu a resposta que eu menos esperava "Vc está ótima! É assim mesmo" rsrsrs Com o tempo, Carol, tudo se ajeita. Ignore solenemente os chatos de plantão q, ao invés de ajudar, dizem que 'depois piora, com o tempo fica mais complicado'. É mentira!!! Cada dia fica melhor, pois o tempo aumenta a sintonia entre mãe-filho-pai, além de vc simplesmente ir se acostumando com o rojão. Como dizia minha psicanalista, a mãe empresta, mesmo, a vida dela ao bebê, por um tempo. Depois vc vai conseguir retomar, aos poucos, sua vida, acredite. Beijo grande, boa sorte com seu pequeno. Cibele.
Estou aqui pra cuidar de você... sempre! Te amo!
ResponderExcluirObrigada meu amor! O seu cuidado é a melhor coisa que existe :)
Excluir