sábado, 6 de abril de 2013

Relato de puerpério - cap. I

O puerpério é esse tempo de pós-parto, com duração meio indefinida, mas podemos assumir a antiga "quarentena" ou "resguardo". É um período muito delicado, por motivos óbvios, tais como ter um bebê que depende exclusivamente e full-time de você, mas também por motivos menos conhecidos ou negligenciados.

O cérebro da puérpera - essa que vos fala, por exemplo - opera em outra frequência, em outro ritmo, COMPLETAMENTE diferente dos demais seres humanos. Perguntas, por exemplo, me atordoam. Hoje me dei conta de que o que eu mais tenho dito ultimamente é "não sei". O que vamos comer hoje? NÃO SEI. O que você quer comer hoje? NÃO SEI. Como você prefere tal coisa? NÃO SEI. Quantas vezes o Joaquim mamou hoje? NÃO SEI. Quanto ele dormiu da última vez? NÃO SEI. E as perguntas quantitativas são as piores! Que horas, quantas vezes, quanto, quanto, quanto??? NÃO SEI, NÃO SEI, NÃO SEI!!! E sabe do que mais?! Não QUERO saber!

E quando a gente sabe, mas não consegue formular uma resposta? Mutcho loco!

Isso acontece por causa dessa outra frequência e outro ritmo cerebrais, corporais, emocionais, espirituais, mas também por causa do cansaço.

E como cansa, minha Nossa Senhora do Bom Puerpério! (interessante como o parto é cercado de cuidados, métodos, relatos, Nossas Senhoras e Boas Horas e acaba tudo que nem nos contos de fada: a princesa e o príncipe se casam e simplesmente "viveram felizes para sempre"! É aí que a vida começa, meus caros, e resumir a vida em "felizes para sempre" é a maior sacanagem... bom, com a chegada de um filho é mais ou menos assim e eu sabia. Não posso dizer que ninguém me avisou, mas teoria é uma coisa e prática é outra).

Enfim, cansa demais e isso também traz confusão mental, dor nas costas e aquela sensação de peso sobre os ombros, como se o mundo inteiro estivesse lá, tipo o Atlas, da mitologia grega, sabe?

E cansada tudo adquire proporções desproporcionais. Uma coisinha vira uma coisona em fração de segundo. O caldo entorna mesmo e pra voltar a uma situação um pouquinho mais digna precisa de muita paciência de quem está em volta.

Eu acho que o que mais cansa é a disponibilidade, é não ter tempo e espaço para exercitar os quereres, que nessa confusão podem ser tão simples como passar um creme no rosto ou escrever no blog. E é instantâneo como o bebê capta e reflete esse estado. Eu fico irritada, ele se irrita, não dorme, eu fico mais cansada, me irrito mais e ele além de não dormir, chora, aí eu choro também e esse choro é o pedido de ajuda que não tinha conseguido sair em forma de palavras, que nem o bebê. Mas é um mecanismo eficiente, porque palavras podem ser ignoradas, mas ignorar um choro, de recém-nascido ou de recém-parida, não é coisa que se faça.

Nessas horas a gente precisa de apoio. Sem perguntas, por favor. Sem foco no bebê, pelamordedeus, deixa ele quietinho no meu colo. Ou então espere a pobre puérpera dizer: você pode ficar com ele um pouquinho enquanto eu tomo banho?

A mãe cuida full-time do bebê. Cuida, cuida, cuida. Amamenta, troca, dá banho, faz carinho, diz palavras doces, cuida, cuida, cuida. TODA a atenção, TODA a energia está voltada pro bebê, mas ela também precisa de cuidados e alguém tem que se encarregar disso. É controverso, mas a mãe que cuida não pode se cuidar. Não cabe.

E por enquanto tá bom desse capítulo, que o Joaquim acordou :)

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Algumas pessoas me falam que não conseguem deixar comentários aqui no blog e acho isso uma pena, porque os comentários enriquecem muito! Quando você não conseguir, me mande um e-mail ou mensagem no Facebook que eu ajudo :)

Segue uma mensagem que recebi da Cibele, que foi minha companheira de trabalho de campo no mestrado e atualmente é mãe do Dante e professora universitária. Acho importante publicar, pra quem estiver passando por isso não achar que ficou louca (ou achar que ficou sim, mas que é normal - por mais paradoxal que isso possa parecer, rs...).

Carol, como eu me assustei com a chegada de Dante! Justamente por essas razões q vc descreveu tão bem... Desde sempre eu quis ser mãe, acompanhei o nascimento e os primeiros meses de 3 sobrinhos, e além disso sempre fui pé-de-boi pra trabalhar. Por essas razões, acreditava (pobrezita de mim) que tiraria de letra os cuidados com o Dante. Menina, na hora q eu cheguei em casa e me dei conta do q era REALEMNTE cuidar de um filho, me desesperei. Não conseguia dormir de tanta ansiedade por acreditar (piamente) q não daria conta. Várias vezes eu esquecia de almoçar, de escovar o dente, de pentear o cabelo. Fui no psiquiatra: 'doutor, acho q estou com depressão pós-parto...' e contei tudo. Ele sorriu docemente e me deu a resposta que eu menos esperava "Vc está ótima! É assim mesmo" rsrsrs Com o tempo, Carol, tudo se ajeita. Ignore solenemente os chatos de plantão q, ao invés de ajudar, dizem que 'depois piora, com o tempo fica mais complicado'. É mentira!!! Cada dia fica melhor, pois o tempo aumenta a sintonia entre mãe-filho-pai, além de vc simplesmente ir se acostumando com o rojão. Como dizia minha psicanalista, a mãe empresta, mesmo, a vida dela ao bebê, por um tempo. Depois vc vai conseguir retomar, aos poucos, sua vida, acredite. Beijo grande, boa sorte com seu pequeno. Cibele.

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