domingo, 7 de julho de 2013

Deus

Uma amiga me disse, em tom solene e emocionado, que a chegada da filha mostrou a ela que Deus existe;
Uma outra amiga, em tom brincalhão mas não menos sincero, disse que é só ter filho pra passar a acreditar em Deus e "aprender rapidinho a rezar!";
Vira e mexe ouço alguém dizer que "os filhos são presentes de Deus".

Pois bem, apesar do pouco tempo de experiência materna já passei algumas angústias dignas de aprender a rezar e no entanto continuo com meu ateísmo. É curioso, mas não encaixa. Numa dessas situações de fazer aprender a rezar saiu um "Meu Deus, por favor,...", mas num atropelo de pensamentos ouço "Meu Quem?!" e me vi diante do vazio. Ou seria Vazio?

O caso é que um ateu  não tem pra quem pedir. Tem que se virar sozinho. E se virar sozinho às vezes cansa. Mas caçar com gato não dá, então... a gente caça sozinho mesmo.

Gerar e criar um filho é sim surpreendente. É ver a (im)perfeição da natureza tão de perto, mas tão de perto, que chega a ofuscar. Ou deveria escrever Natureza? Sim, ela é minha Deusa, perfeita em sua imperfeição, mas que não atende a pedidos.

Os crentes que me desculpem, mas existe comodismo maior do que pedir a Deus?!

Como diz a sabedoria popular: quem quer faz, quem não quer manda. Ou pede... e lembre-se: a voz do povo é a voz de Deus ;)


SE EU QUISER FALAR COM DEUS
Gilberto Gil
1980

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar



Nenhum comentário:

Postar um comentário