quinta-feira, 30 de maio de 2013

Vida de vaca leiteira


Eu nunca duvidei que amamentaria meu filho. Do mesmo jeito que nunca duvidei que ele nasceria de parto normal... até alguém me falar que nossas chances de cesariana eram grandes e o medo dominar o cenário, que acabou se convertendo numa sala de cirurgia, com o desfecho que eu abominava... mas não é sobre isso que quero falar.

O que importa é que tenho amamentado deliciosamente, o Joaquim está grande e saudável e eu feliz e satisfeita. Ao contrário do prognóstico pro parto, ninguém nunca me disse que eu não poderia amamentar, ou que meu leite não seria suficiente; o ganho de peso do Joaquim também nunca me disse isso, muito pelo contrário. Não sei o que seria de mim se tivesse que enfrentar crescimento abaixo da média ou qualquer problema de saúde dele, por isso não julgo mães que tem que ir pros leites artificiais.

Nós, mães, por incrível que pareça, somos o elo mais frágil dessa corrente. Se não temos um bom médico, uma boa consultora em amamentação, um bom marido, uma boa mãe, uma boa sogra, umas boas cunhadas, não dá pra segurar a onda sozinha. É muita pressão! Pelo menos quem detém o conhecimento formal (médico) e quem está junto cotidianamente (marido), tem que estar muito a favor da amamentação, senão não rola mesmo. E se mesmo assim não rolar, pelo menos sabemos que não foi porque estávamos sozinhas e desamparadas, mas porque nem tudo na vida é do jeito que a gente sonha...

Embora eu ache que parir naturalmente e amamentar não caibam no escopo de sonho. É natural, poxa vida! É pedir muito que as coisas aconteçam como a natureza manda?! Por isso o parto que acaba tendo que virar cirurgia e a amamentação que acaba tendo que virar mamadeira me entristecem muito. E me entristecem mais os números alarmantes, pois esses casos deveriam ser exceção e não regra.

Só que nessa sociedade de cabeça pra baixo que a gente vive, tem mesmo que se esforçar para que as coisas aconteçam de forma simples e natural. Por isso quero contar a minha experiência com a amamentação, pensando que talvez seja útil a alguma mãe, pois tenho lido muitas coisas que me ajudam.

Pra começo de conversa, o Joaquim nasceu sugando loucamente e o formato do meu bico do seio foi elogiado pela pediatra :) Pontos pra natureza!

Fora isso, a única orientação que tive foi pra amamentar em livre demanda. Felizmente NINGUÉM falou aquelas bobagens de amamentar de X em X horas por Y tempo, etc. Ah sim, teve outra orientação, que foi pra alternar os peitos por mamada, ou seja, não importa quanto tempo ele fique num peito, deixa ele lá, aí na próxima mamada ele vai pro outro peito. No comecinho, como ele mamava MUITO era fácil lembrar qual era o lado da vez. Agora já preciso fazer algum esforço pra lembrar, mas também é só prestar um pouco de atenção pra ver qual lado está mais cheio.

A única e grande dificuldade que tive foi que lá pelo quarto dia os bicos pediram arrego! Pequenas rachaduras, dor, um pouco de sangue. Pouco, quase nada, mas suficiente pra me deixar em pânico! Lembre-se, quarto dia, a cabeça num turbilhão, o corte da cesariana doendo, o medo ainda presente e o pavor de um novo "fracasso".

Nesse momento a presença lúcida do marido foi crucial. Ao ver a minha cara de desespero (eu nem precisei, nem consegui falar nada), o Paulo Cesar começou a buscar informações na internet, achou uns vídeos, uns blogs, umas dicas e em uma madrugada grande parte do problema já tinha sido solucionada: a parte do medo do fracasso, a parte de se sentir sozinha e incapaz. Eu não estava sozinha, eu tinha um companheiro!

No nosso caso foi assim mesmo, em uma madrugada. Nem precisei ligar pra ninguém, mas sugiro que se tenha para quem ligar. E tem que ser rápido, muito rápido, porque mesmo que a dorzinha seja suportável e dê pra amamentar, em questão de horas ela pode ficar insuportável, aumentando o risco de ter que oferecer alimento de outra forma ao bebê, o que prejudica a amamentação.

No meu caso, do ponto de vista prático, prestei mais atenção na "pega", inclinando um pouco o bico do seio pra cima ao colocar na boca do bebê e trazendo a cabeça dele pra bem perto, afundando no peito sem dó, rs... ah, e antes do bebê mamar é bom fazer uma massagem no seio e na auréola, a fim de deixar o leite mais líquido e diminuir a força que o bebê faz pra sugar, porque quanto mais forte ele suga, mais dói se o bico está machucado.

Outra coisa que ajudou muito foi passar o próprio leite no bico e deixá-lo arejado, de preferência tomando um solzinho da manhã. Por essas e outras que é bom evitar visitas nos primeiros dias, assim a mãe pode fazer top less sossegada! A famosa pomada Lansinoh eu já estava usando desde o último mês de gravidez (1x/dia) e depois passei a usar depois de cada mamada e antes do banho. Acho que ajudou muito. Depois de três ou quatro semanas passei a usar só antes do banho ou quando surge alguma sensibilidade, mas é raro.

Com esses cuidados a integridade dos mamilos fica preservada e do ponto de vista físico não é pra ter maiores dificuldades, mas insisto: não espere para pedir ajuda no caso de qualquer desconforto.

Aí vem a parte mais difícil e é onde sei que muitas sucumbem: a disponibilidade. Para amamentar de forma exclusiva, o que é consenso quanto aos inúmeros benefícios para o desenvolvimento do bebê, é preciso esquecer todo o resto e estabelecer que a única prioridade é amamentar. Fora isso, o que vier é lucro! E até vem, viu? Pois quanto melhor o bebê mama, mais tranquilo ele fica e assim consegue conceder momentos de descanso para a mãe.

No primeiro mês o Joaquim mamou absurdamente, quase que full time! E o esperado é que seja assim mesmo, pois no útero os bebês tem oferta constante de alimento, portanto não sabem o que é fome e ao nascer esse é um dos piores sentimentos que eles experimentam, é o que mais os apavora, então eles requisitam o peito o tempo todo. Além disso, mamar é a melhor forma de pedir colo e tudo o que eles querem é ficar no colo, no aconchego, sentindo o calor e a pulsação do corpo da mãe, que aliviam a estranheza desse mundo hostil onde acabaram de chegar. Por isso digo que "mamar" é um verbo muito mais amplo do que "ingerir leite". Se o bebê está grudado no peito, é lá que ele quer estar, mesmo que não esteja mexendo a boquinha, mesmo que não esteja sugando, mesmo que esteja "fazendo a mãe de chupeta" (o que é um absurdo e não se diz a uma mãe! Experimente inverter, pensando que o bebê "faz a chupeta de mãe"... triste, né? Substituir o calor e aconchego materno por um objeto de borracha. Dar ou não chupeta é uma decisão pessoal, mas tenhamos em conta a escala de valores: primeiro mãe, depois chupeta!).

E se o bebê quer estar no peito, qual o motivo para não deixá-lo ali? Pra mim é totalmente inconcebível querer "educar" um bebê, para que ele saiba que existe hora pra comer, hora pra dormir e pra não sei mais o que. Pros bebês não existe hora, existem só seus impulsos vitais, que não tem outra pretensão senão a da sobrevivência, então negar qualquer coisa a um bebê significa ir contra seu instinto de sobrevivência. Comer quando se tem fome, dormir quando se tem sono. Aprendi isso nas lições zen budistas da minha mãe e ninguém melhor do que um bebê para nos lembrar desse caminho simples para a felicidade.

É fato que é preciso estar disposta a abrir mão da própria felicidade para garantir a do filho. E me desculpe quem pensa o contrário, mas tenho cá pra mim que quem não está disposta a fazer essa concessão, não está preparada para ser mãe. Nem sempre eu consigo comer quando tenho fome, nem dormir quando tenho sono... também não sou eu quem determina quando vou tomar banho. Mas ter um filho foi uma escolha que eu fiz, sabendo que teria que me doar por completo por algum tempo. Não sei por quanto tempo, mas sei que ficarei surpresa quando tiver minha liberdade de volta.

Além do mais, quem aí come quando tem fome e dorme quando tem sono? Frequentemente abrimos mão dos nossos quereres por motivos bem menos nobres, aí quando chega um filho, essa obra prima da natureza, esse pequeno ser que nos é tão caro, inventamos de achar que "precisamos impor limites", que "precisamos lembrar de nós mesmas". Alto lá! Vai impor limites pro seu chefe, não pro seu filho! Ainda mais se for um bebê de colo...

Sei que os buracos são muito mais embaixo, não quero ser preconceituosa, nem fazer julgamentos. Cada um sabe de si e o objetivo dos meus cutucões é apenas instigar que cada um possa procurar saber um pouquinho mais de si!


A imagem é do Blog do Cacá, que tem artigos ótimos sobre amamentação.

2 comentários:

  1. Carol, pra variar show de bola.
    A dica do banho de sol ou ainda banho de luz (qualquer tipo de luz) é ótima, foi o que salvou meus bicos quando estava amamentando a Agatha. Por sinal, mesmo não tendo leite ela mamou até 2.5 anos. Quando perguntavam se ela não gostava de chupeta, ia dizia de boca cheia, ela adora uma chupetinha de carne.
    Pena que com o Cauê a história foi bem diferente, mas afinal eles são bem diferentes.
    Beijos e "keep on the good work"
    Lu

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    1. Obrigada Lu! Beijos e espero que possamos colocar a prole junta qualquer hora ;)

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